Pensando no impensável
De todo encanto nada me resta
Nem a falsa esperança
A que de mim fez criança
E deixou meus olhos em festa.
Vi a felicidade por uma fresta
_ Estrela menina que ri e dança_
Onde meu olhar ainda descansa
Atento à vida que se manifesta.
E versos brotaram como prece
Nos lábios sedentos dum pedinte
A rogar dádivas que não merece
E já no instante seguinte
Como maná que do céu desce
Sentia o gozo a ditoso requinte.
Eis que recluso me encontro
_ de sol e estrelas_
Nenhuma réstia de esplendores
Nem poesia nem flores
Nem vê-la, nem ouvi-la ou tê-la.
Vendaram meus olhos
Privaram-me das cores.
Palavras?... Só as simples, singelas
Sem o ardor lírico daquelas
Belas, que cantam os amores.
Não resta saída,
Nem espera nem ida,
Nem lembrança vivida
Do amor por mim sonhado...
Agora o que faço do amor querido
Nem abortado nem parido
No meu peito sufocado?
Em mim anoitece
Fantasmas me espiam da floresta
Tenho a solidão de Ullices
Lembranças de efêmeras ledices
_ risos de flor quando amanhece.
Remo só, meu barco frágil, no pântano escuro
Sob olhar severo de ninfas
Que exigem que eu ignore
_que eu finja, omita ou minta_.
E sufoque às claras este amor tão puro.
Porém;
Se a aurora raia sempre
E o sol lentamente rompe sobre os montes
Remarei rumo ao amanhecer;
Se de outrem é o sol que se ascende
Que seja de todos o horizonte
Outrossim, o entardecer.
De repente sou alguém, sou gente!
Poeta
Culto
Querido
Inteligente!...
De repente sou gente!
De repente sou gente, sou alguém!
Poeta
Querido
Culto
Inteligente...
Bem;
De repente ela mente,
Sou ninguém!
Se há sol
Há esperança,
O dia parece sorrir;
É a manhã qual uma criança
Que inda sonha sorrindo ao dormir.
Se há sol
Há esperança
E a vida se enche de vida.
Mesmo sonhando como criança,
É a manhã, prenúncio do que há de vir.
Fim de semana
Os dias em que passo sem sol parecem longos...
_ lúgubres como dia de finados _.
Então percebo atônito que sem sua luz estou cego,
_ Jazendo confinado.
Que me faltasse a água
Que me faltasse o ar
Que me faltasse o pão;
Não sentiria tanta sede
Não sentiria tanta fome
Não sentiria tanta aflição
Tanta dor e solidão.
Até parece que teus olhos é que sustente minh’alma e meu coração.
Até teu nome...
Quanta poesia
Quanta significação...!
Também ironia me revela teu nome!
E quando meus olhos encontram você...
Sempre gostei de poemas.
Sempre quis escrever um livro.
Este era o momento se soubesse como fazê-lo.
Mas não sou bom em versos,
Fico aflito, constrangido...
Sempre me perco nas rimas.
Fogem-me os sentidos,
A verdade do que sinto e do que digo.
Sempre quis escrever um livro.
Mas tenho vergonha do meu eterno analfabetismo.
É difícil tornar-se culto.
Quanto mais se estuda mais se aprende, verdade; mas ao tentar entender que só se aprende algo o estudando, se entende que tudo do que não se entendia, menos ainda se sabe; e a sabedoria evolui por si independente de fórmulas e normas; e sim e exclusivamente da sensibilidade.
Como não sei fazer poemas farei um romance.
Os romances são tolerantes à falhas literárias
São vulgares como os sentimentos.
(isso é oposto ao que diz as letras).
Farei um romance! Mas desde já tenho que afastar esse pessimismo.
Não fica bem uma historia de amor puramente de fantasia e realismo.
Se ficássemos juntos teria um final feliz
Ou pelo menos episódios de prazer
_ “O doce da ilusão” como se diz.
Mas até para iludir-se é preciso fantasia e realismo
Só assim é perfeita a ilusão.
Tivesse eu status
Tivesse eu a beleza padrão
_ Comum aos homens atualmente admirados_
Ela certamente me daria maior atenção.
Mulheres não vêem na beleza vulgar a miséria,
_ A feiúra que se esconde no peito a podridão_
O importante sempre é a matéria
Nunca a pureza e a ternura do coração.
Cinco de maio nasce nebuloso,
Está frio.
Daqui não vejo a lua
Vejo apenas tímidas estrelas.
Uma neblina rósea-lilaz paira sobre o jardim.
Eu gosto desta brisa que antecede a aurora.
Eu gosto desse pensar ritmado
Às vezes sem ponto
Às vezes pontuado.
Longe, as luzes néon confundem meus olhos...
Parece triste o ar, a cidade sonâmbula, sonolenta,
Nessa falsa quietude.
Quietude de paz e velocidade lenta.
Eu gosto desta brisa que antecede o nascer do sol!...
Tempo indeciso...
Tempo-juventude.
Temos o mesmo vento
Caminhamos na mesma direção
Sorvemos a mesma energia
Buscamos o mesmo fim
Vivemos a mesma emoção...
A espera.
_À luz invisível posso chamá-la amor...
Hoje eu direi “eu te amo?!”
O dia se projeta triste...
Será que ela é realmente feliz?
O sol demora vir...
Hoje eu direi!
O relógio lento...
Eu sou um relógio lento.
_Talvez lento demais_
Talvez eu esteja parado no tempo...
Talvez eu seja o tempo
E a vida um relógio
E esse relógio me desconheça...
Talvez nunca amanheça...
Talvez não exista tempo nem relógio
Talvez só exista vida
_ esse anteceder de aurora _
Essa brisa, esse perfume de glória.
Eu triste
O jardim triste
_ egoísta que é _
Cobra-me a flor roubada.
Ora! Nesse instante outras desabrocham.
O dia há de florescer.
Devo contentar-me com o perfume.
A beleza do sol...
Em amanhecer.
Mas o sol imprevisível,
Tão incerto
Tão luz permissível
Tão inconstante e indivisível
Tão intransponível...
Na sua aurora fora transmutativo.
Onde ela está neste instante de penumbra?
...Contemplando os olhos do deus?
A ninguém mais darei flores.
As flores pertencem ao jardim,
E o jardim a olhos atentos.
Aos sensíveis, perfume para devaneios.
Não é justo colher toda beleza
Podar da vida o viço
E excluí-la a olhares alheios.
A ninguém mais darei flores!...
Mas não posso dizer: a ninguém mais amarei!
Não quero pecar por egoísmo.
Quero dessa aurora o hálito
O sol perfumando meu caminho
Espontâneo_ não por hábito.
Quero a luz penetrando-me n’alma a vida,
A reverdecer esperanças ao meu abismo.
Quero dar fim ao ceticismo;
Quero o amanhecer límpido, cálido,
E a ágape divina dividido
Na paz do convívio plácido.
A Alfa toca Kenny G.
Sinto-me in Nirvana
Afora pela nictação
O brilho cósmico a mim me reverbera a alma
Nesse instante de quietude perpétua.
Pensar que a beleza genuína é triste
E que na melancolia há encanto e pureza...
Será que ela está amando neste instante...?
Será que é amada por natureza...
A vida...
Quem quiser que se pontue
Manhã de sexta
Meu coração a comprimir-se
Cada vez mais e mais
Canta
Cada vez canta mais triste
O silencio é surdo
Por isso grita
Canta agudo
Um silêncio absurdo
Mudo
Mudez que corrói
Mas é voz que grita
Aflita
E dói
Será que ela está amando neste instante
Será que ama por natureza
Será que há silêncio no seu encanto
Será que há no seu silêncio tristeza
Será que seu silêncio canta
Será que canta pureza
Está frio
É sexta
Sexta nevoenta
Já não tem lua
O sol ainda por vir...
O jardim triste
Jasmine Flower...
_ É como uma brisa de chamas.
O fim de semana...
Ansiedade... Angústia...
O sol que não vem...
Mas como deter o sol nas mãos?
Este sol que vem chegando, chegando... e passa.
Hoje eu direi:
_ Sol, eu te amo!
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